Em nossa cultura, lidar com a morte não é algo fácil. Evitamos, negamos, fugimos até onde é possível. Porque lidar com a morte é acessar nossa vulnerabilidade, nossa fragilidade, nossa impotência.
E as dificuldades aumentam quando estamos lidando com a perda gestacional e neonatal. Muitas vezes esse luto é vivido em silêncio, pois não há ao menos um reconhecimento social.
Esse bebê (que pode ter poucos dias, semanas ou meses), não é visto como alguém, como um ser único. Então, ele facilmente pode ser substituído: por outro bebê, por novos sonhos, por um “bola pra frente” ou “foi melhor assim”.
Mas como é possível apagar uma existência dessa forma?
Se viver a dor da perda já é grande, ter que chorar escondido ou convencer as pessoas de que não era só um “embrião”, e sim, um filho, dificulta ainda mais o processo de elaboração do luto.
Trazendo um olhar sistêmico para nosso papo, convido você, pai e mãe, que passou por essa difícil experiência, que abra um espaço para essa criança, dentro do seu coração. Se permita chorar essa dor. Se permita conviver com essa falta. Sua vida retomará, novos projetos surgirão, talvez outros filhos. Mas cada bebê merece seu espaço e merece ser lembrado. Cada filho é um filho único.
Dar um lugar a todos que existiram, e não importa por quanto tempo tenha sido essa existência, é premissa para que você possa seguir sua vida. Honrar a vida que foi gerada, percebendo que todo destino é válido e que cada um de nós tem uma missão aqui. Para alguns, a passagem se faz de forma muito rápida. E não é o tempo que dita a importância ou relevância dessa passagem. Alguns bebês vem e vão, para deixar algo muito especial. Será que você está aberto para receber a mensagem que ele veio lhe trazer?
Te convido agora a fazer um exercício muito simples, porém, extremamente profundo. Vamos?
“Feche seus olhos e visualize seu bebê a sua frente, no seu colo. Olhe bem fundo nos olhinhos dele e diga: Querido filho(a), eu vejo você! Eu me alegro com sua existência e dou um lugar a você em meu coração. Você será sempre meu bebê e eu serei para sempre sua mamãe/papai”.
Que possamos compreender o propósito dessa existência, e concordar com esse destino, mesmo que a saudade aperte.
Afinal, esses filhos também merecem ser lembrados com alegria!