Testei positivo.
Vamos contar a todos? Esperar até 3 meses pelo menos? Vamos fazer chá revelação? Você prefere menino ou menina? Qual o tema do quarto?
Essas e outras perguntas são as mais comuns de serem feitas pelos futuros pais.
Mas, o que deixam de te falar que é tão importante quanto tudo isso?
Já ouviu falar em plano de parto? Parto humanizado? Fisioterapia pélvica? Ocitocina? Episiotomia? Manobra de kristeller?
Foram tantas coisas que eu ouvi e aprendi durante a gestação, que hoje, como mãe e advogada faço um convite às mães para acompanhar os próximos artigos aqui no portal.
Engravidei no ano passado. Foi totalmente planejado, pensamos em qual plano de saúde contratar, qual hospital nossa filha iria nascer, qual o médico etc.
Tudo caminhava como planejamos, até que tivemos a primeira descoberta: nossa médica que, embora fosse credenciada ao nosso plano de saúde, fazia partos apenas de forma particular.
E aí, a segunda descoberta: o valor dos honorários dela eram bem altos, além disso, teríamos que pagar pelos honorários da equipe dela também. Tudo sairia muito caro, considerando as outras despesas que nós teríamos com a chegada de uma criança.
Além do valor, algo me chamou a atenção. No contrato dessa médica, dizia que, caso acontecesse algum imprevisto com ela no dia do meu parto, eu teria que contratar um novo profissional, pois ela não teria ninguém para substituí-la. Ou seja, eu teria pagado os seus honorários e ainda teria que pagar mais alguém para que pudesse realizar o meu parto. Em outras palavras, meu dinheiro teria sido jogado fora e eu não teria nenhuma segurança.
Pensamos bastante (meu marido e eu), e decidimos que seguiríamos com o Pré-natal com a médica, e que o parto seria feito com a equipe de plantão da maternidade que escolhemos. Excelente! problema resolvido.
Só que não. Ao conversar com a médica durante a consulta, ela mudou sua conduta com a gente e, simplesmente, me deu alta no meio do Pré-natal.
A médica me disse que, considerando que eu não faria o parto com ela, eu não teria o contato dela nos meses de dezembro e janeiro, pois ela estaria de férias e somente poderiam entrar em contato com ela durante esse período aquelas gestantes que contrataram o parto de forma particular. Um detalhe: minha filha nasceu em fevereiro, nesse período eu estaria no final da gestação.
Além desse “comunicado’’, a médica me passou todos os exames que eu deveria fazer até a 28ª semana gestação, como se estivesse me “despachando” do consultório.
Naquele momento eu fiquei sem chão. Sem palavras. Sem reação.
Não existe alta em pré-natal. A médica era conveniada do meu plano de saúde. Meu plano saúde sempre esteve com o pagamento em dia. Eu não estava pedindo favores. Eu estava tendo um direito meu violado. Eu estava sofrendo uma violência obstétrica.
E por que hoje eu estou compartilhando isso?
Porque, certamente, você já passou por algo semelhante ou conhece alguém que já tenha passado.
Porque eu acredito que a informação é a nossa maior ferramenta para impedir que os profissionais de saúde violem nossos direitos, se valendo do fato de a maioria das pessoas não conhecerem quais são eles.
E o que podemos fazer nesse tipo de situação?
- Formular reclamação diretamente ao plano de saúde;
- Denunciar o profissional ao conselho regional de medicina;
- Procurar um advogado especialista para que busque judicialmente uma reparação.
Infelizmente, cerca de 98% das mulheres sofrem algum tipo de violência obstetra. A maioriasequer tem noção de que foram vítimas, acreditando ter passado por uma situação que é comum, e que na verdade, elas podem ter se sentido chateadas devido as suas alterações hormonais.
Mas não. Nós mulheres somos vítimas de violência quase que diariamente, em diversas situações. E isso tem que acabar.
E uma forma disso acabar, é compartilhando conhecimento umas com as outras.
Você vem comigo?