Especial Dia das Mães: “Reconheço Beatriz como o verdadeiro milagre”

Esses dias me peguei chorando compulsivamente, abraçada a minha Beatriz, que pegou sua ‘naninha’ e enxugou meu rosto. “Eu sei que é de alegria, mamãe”. Tinha falado para ela o quanto a amava, que ela era meu ‘milagrinho’.

Ser mãe estava nos meus planos. Quando fiz o curso de casais para o casamento no religioso, a resposta já estava na ponta da língua: “quero ter dois filhos, mas vou aceitar quantos Deus me enviar”. Nunca pensei que aquilo fosse fazer sentido, quase dez anos depois.

Me casei, depois de dois anos decidimos tentar engravidar. Demorou quase nove meses para que eu finalmente tivesse meu positivo! Foi exaustivo, tentativa dia sim, dia não, pernas para cima, aquelas loucuras ‘cientificamente comprovadas’ que a gente faz para que o sonho vire realidade.

Ele virou, e em 2013 eu recebia meu positivo e passava o ano inteiro vivendo em função da minha Beatriz. Gravidez tranquila, filha saudável, apenas os ‘perrengues’ normais do processo todo. Faria tudo de novo.

Em 2017, um novo positivo, e um milhão de novas expectativas. Ouvi seu coraçãozinho batendo forte, mas na ultrassom de três meses, um silêncio que esvaziou tudo o que estava em volta. O que era aborto retido? Ele existe e é dolorido, não no corpo, mas na alma.

Foi um ano de muitas provações, muito sofrimento, uma dor que só quem tinha passado entendia e dava para sentir no abraço de cada mulher em luto gestacional. Porque uma coisa é verdade, quem passou por ele vai vivê-lo todos os dias, inevitavelmente.

Aprendi muito, principalmente a ser forte. “Você precisa melhorar para cuidar da sua filha!”. Cada um que dizia isso mal entendia que quem estava cuidando de mim era ela. Ela me curou. E toda vez que olhava minha Beatriz, me vinha a certeza que eu era muito feliz.

Exatamente um ano após a segunda gravidez, um novo positivo. Medo, alegria, medo, muito medo. Não criei nenhuma expectativa, não visualizei nomes, não discutia o futuro. Queria viver o presente. Sentimento de mãe já me preparando para um novo processo, que lá no fundo eu sabia que se repetiria.

Ouvi seu coração duas vezes. Na terceira, mais um aborto retido. Mais um sofrimento, mas desta vez, sem dor, sem choro. “Será que ela está mais centrada?” Não! Eu simplesmente já sabia como era, então era mais fácil lidar. Mas se você me perguntar como eu me sinto, te respondo: Tenho saudades! Porque quando você pega um exame positivo, tem uma vida ali dentro. E eu me sinto eternamente responsável pelas três vidas que eu gerei. E mais que isso, eu sinto um amor absurdo por cada uma. E, ainda mais que tudo isso, eu tenho a compreensão clara do que cada uma delas veio realizar na minha vida.

Depois de dois abortos seguidos, o segundo bebezinho foi para exame do cariótipo. Era uma menininha. Uma nova flor do meu jardim, que bateu asas e virou mais um belo anjo. Mas com a descoberta, veio mais um resultado: trissomia do 22.

E depois disso, reconheço minha Beatriz como o verdadeiro milagre das nossas vidas. Agradeço cada segundo por sua vida!

Agora eu me vejo encarando mais uma batalha, atrás de médicos, exames e alguma justificativa científica para tudo isso que estamos vivendo aqui em casa. Eu reconheço que o tempo e minha vida não sou eu quem conduzo. É Deus. E, mais ainda, consigo perceber em cada etapa do que eu tenho vivido o que Ele está me mostrando e o quanto Ele me ama!

Eu já desisti de ter mais filhos. Eu também já desisti de não tê-los mais. “Vou aceitar quantos Deus me enviar”.

 

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Autor Livia Haddad

Mãe da Beatriz. Fundadora e editora do Portal Mães de Jundiaí. Jornalista, radialista. Fundadora e líder da comunidade Mães de Jundiaí no Facebook.

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