Já mencionamos, muito superficialmente, aqui, o ecossistema de grupos, blogs e podcasts nos quais pais podem encontrar não apenas informação, mas também pessoas nas quais reconhecer problemas pelos quais eles próprios já tenham passado ou que estejam passando. Entre essas fontes, uma muito bacana é o Paizinho Vírgula, do Tiago Queiroz, que, em uma recente publicação, abordou um tema com o qual eu prontamente me identifiquei.
Em um vídeo, o Paizinho Vírgula fala sobre aquelas máscaras que, segundo a instrução de segurança que é passada aos passageiros antes de qualquer voo, deverão cair do teto em caso de descompressão da aeronave. Em meio a uma série de gestos para demonstrar o procedimento, a equipe do voo explica que você deve, antes de mais nada, vestir a máscara e, somente depois de colocá-la, tentar ajudar alguém, mesmo crianças. A lógica por traz disso é simples: se você estiver inconsciente, não vai conseguir ajudar ninguém.
A ideia, é claro, não é discutir procedimentos de emergência em aviões. A imagem das máscaras, na verdade, ilustra e ajuda a introduzir o tema do equilíbrio e do cuidado consigo mesmo para poder estar condição de cuidar daqueles que precisam de sua atenção e de seus cuidados, como seus filhos. A mensagem é a seguinte: é preciso cuidar do cuidador.
Imediatamente me lembrei da primeira consulta de minha filha com o pediatra dela. Para ser sincero, não sei exatamente se falávamos sobre chupeta ou sobre mamadeira no meio da noite, mas, ao dizer que tudo bem ceder em algo para que ela voltasse a dormir e pudéssemos descansar, o médico aconselhava: “vocês devem ter cuidado para não ficar tão cansados que não consigam cuidar dela”.
Acredito que os pais que leem esta coluna procuram se esforçar ao máximo para suprir as necessidades de seus pequenos, mas, se esse esforço for acabar com nossas energias, como vamos poder passar tempo de qualidade com eles? Como vamos ser capazes de lidar com birras, cólicas, com o mal estar do resfriado que não os deixa dormir se não estivermos em condições emocionais e físicas para isso? Por isso, vamos com calma.
Também já falei aqui sobre como homens pouco compartilham e pouco discutem suas experiências e angústias da paternidade. Nossa cultura nos diz que devemos ser fortes e inabaláveis, mas é preciso lembrar que não adianta querer ser o super-herói o tempo todo. Se precisar de ajuda, peça. E se precisar de ajuda profissional, procure. Cuide de sua saúde emocional e física para poder cuidar de seus filhos.
O mesmo vale para o trabalho. Quando voltei a trabalhar depois de dedicar os primeiros meses de minha filha exclusivamente a ela, eu me sentia um tanto culpado por não estar integralmente disponível e não parava de querer verificar como as coisas estavam em casa. Mas não havia problema algum e eu estava gerando um estresse desnecessário para mim mesmo.
Obviamente não queremos negligenciar os filhos em nome da vida profissional, mas permitir-se estar focado no trabalho é necessário para ser produtivo e ser produtivo é necessário para que, quando estivermos com as crianças, nos dediquemos àquele momento e não a preocupações com prazos e tarefas a cumprir. Cada coisa tem seu momento e o equilíbrio entre elas é que vai garantir tempo de qualidade no trabalho e, principalmente, em casa, quando você poderá estar mental e emocionalmente disponível para os pequenos.
Então, se a Peppa Pig é a única capaz de distrair uma criança sapeca para que você consiga terminar um texto sobre equilíbrio entre o seu tempo e o tempo da família, deixe a porquinha pular na poça de lama. Isso não fará de você um pai relapso e também poderá mostrar para a criança que cada pessoa tem seu próprio tempo. Quando o texto estiver pronto, você poderá brincar com seus filhos sem essa preocupação e dedicar toda a sua atenção a eles.