Expectativa dos pais, frustração da família

Foto: Thais Cayetano

Eu sempre fui muito tímida, mesmo! De não conseguir fazer uma ligação ou comprar um pão na padaria. Era daquelas que ficava na barra da saia da minha mãe ou na sombra do meu irmão. Quando a Bia nasceu, queria tanto que ela fosse mais desinibida, pudesse fazer as coisas sem as travas que eu tinha.

Queria que a Bia fosse super expert em alguma coisa desde cedo e que pudéssemos saber, ainda pequena, quais as habilidades ela teria para poder incentivar. Achava até que ela podia ser alguém famosa que fosse participar do Arquivo Confidencial do Faustão e eu estaria lá no vídeo depondo sobre como foi a criação daquela artista incrível.

Bia não é como eu quero. Bia é o que ela quer ser.

Esta semana estive conversando muito com minha equipe sobre expectativa e frustração. O quanto a gente coloca nos nossos filhos as nossas expectativas (que são nossas), mas aí vem a frustração e toma conta de todo mundo.

A Bárbara é filha da Rita. Uma menina de personalidade forte. Ela participa do Comitê das Crianças aqui de Jundiaí (SP) e tem voz ativa com as autoridades da prefeitura. Semana passada aconteceu aqui um grande movimento que trouxe o idealizador da Rede Mundial da Cidade das Crianças, o italiano Francesco Tonucci, e os pequenos foram os grandes responsáveis por apresentar parte dos eventos.

A Rita é uma mulher tímida, não gosta de aparecer. Quando ela estava grávida do Bernardo, seu segundo filho, a Ba tinha 3 anos e surgiu uma oportunidade de fazer um teste de comercial pra ela. Rita conversou, explicou, e no auge da sua primeiríssima infância, a pequena concordou. De barrigão, a mãe foi pra São Paulo na expectativa de que a filha fosse arrebentar no teste, porque ela era tudo incrível mesmo. Na antessala, aquela figurinha engraçada, doce e fofinha chamava muito a atenção. No estúdio a menina travou. Não quis fazer absolutamente nada.

Rita obviamente (e você se coloque no lugar dela como mãe, porque eu me coloquei e senti o mesmo), saiu frustrada, pegou estrada de volta para o interior e disse que nunca mais iria fazer aquele tipo de coisa.

Passam-se alguns poucos anos, Bárbara é uma pré-adolescente, ainda que tímida, de uma sagacidade e sinceridade infantil com ideais bem propostos. Enquanto no evento da semana passada as crianças não queriam subir ao palco, ficar de frente com uma plateia, a menina foi lá e fez a parte dela, além de ter substituído quem optou, de última hora, por não enfrentar este medo.

E este medo pode ser por inúmeras coisas, desde o desconhecido até o ‘não gosto de aparecer’.

Barbara foi porque ela quis. Porque ela foi convidada e ela mesma aceitou. Porque ela se sentiu segura de estar ali, era onde ela queria estar na hora que ela queria. Sem imposições, sem travas, sem rédeas.

Hoje a minha filha, Beatriz, não é tímida como eu era. Mas ela é extremamente desinibida para muita coisa que eu penso “nossa, calma, não precisa ser tão desinibida assim”. Enquanto ela quer tirar uma dúvida com uma atendente de loja, eu quero enfiar minha cabeça num buraco.

Mas ela é assim, do jeito dela, não do meu. Ela não vai ser como a personalidade dela é, como os gostos dela ditam.

Nós, como mães, orientamos, indicamos, sugerimos. E respeitaremos o que nossos filhos decidirem de acordo com a idade, perspectiva e expectativa DELES. Não nossas!

Bia não diz que quer ser famosa quando crescer. Bia diz que quer ser mãe.

Autor Livia Haddad

Mãe da Beatriz. Fundadora e editora do Portal Mães de Jundiaí. Jornalista, radialista. Fundadora e líder da comunidade Mães de Jundiaí no Facebook.

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