Terapeuta familiar fala sobre o efeito da quarentena no relacionamento pais e filhos

A quarentena chegou trazendo muitas mudanças. Nos tornamos funcionários móveis, experts em tecnologia e, de uma hora para a outra, tivemos que virar professores.Mas se somos os primeiros a ensinar algo aos nossos filhos, ainda quando são bebês, qual é o problema nisso? O problema não é um só, mas diferentes problemas em âmbitos diferentes.

A terapeuta familiar Evelyn Stam fala sobre o efeito da quarentena no relacionamento pais e filhos e ressalta alguns dos principais problemas causados pelas mudanças consequentes da pandemia da Covid-19. Confira:

1- Acadêmico

Professores estudaram para transmitir conteúdo para os nossos filhos. Ensinar é uma fórmula de aptidão somada à muito estudo. Professores escolheram (assim espero) passar conhecimento à outras pessoas. E estudam muito para isso. Saber muito sobre um assunto não te faz um bom professor, só um expert no assunto. Sendo assim, saber as letras do alfabeto não nos qualifica para ensiná-las, a coisa é mais difícil do que parece. Acredite, professores sabem o que estão fazendo e porque estão fazendo. Agora, de uma hora pra outra foi exigido de nós pais que tenhamos não só aptidão para o ensino mais que saibamos como fazê-lo.

2- Muita informação

O volume de informações a ser passadas para os alunos também é enorme. Os pais agora têm que dar conta de ensinar todo o conteúdo escolar, dar conta da casa e do trabalho, que agora também é feito de casa.

3- Pressão

Isso nos leva ao próximo problema: a pressão. Estamos vivendo um ciclo de pressão sem precedentes: nossos filhos sofrem pressão da escola, nós, da empresa, dos filhos, do supermercado. Os professores sofrem pressão da escola, tudo isso enquanto tememos por nossa saúde, familiares, empregos, situação financeira.

4- Confusão

Não sabemos direito o que está acontecendo, não temos respostas para dar aos nossos filhos e eles também estão inseguros. Como podemos exigir o mesmo desempenho das nossas crianças diante dessas questões? Nossos filhos estão vivendo esta pandemia tanto quanto nós. Estão tendo que se adaptar também. O primeiro passo a ser dado é o da estabilidade. É preciso encontrar um porto seguro em meio ao caos. Como podemos colocar conteúdo em uma mente desorganizada?

5- Um passo de cada vez

Esse é o momento de dar um passo de cada vez. Primeiro vamos garantir a segurança física de nossos filhos: isso já está sendo feito através das aulas online. Depois é a hora de garantir a segurança mental. Esta é a hora de investir no relacionamento. Atividades em família, muita conversa, muito espaço para as crianças expressarem suas dúvidas, um ambiente seguro para colocar para fora os seus medos. Temos que providenciar tudo isso antes de começarmos a nos concentrar no conteúdo escolar.

Quando a casa que é a mente dos nossos filhos estiver arrumada chega a hora de pensar nas tarefas. O Foco é ajudar nossos filhos a aprender o conteúdo da escola, mas o preço do aprendizado nunca pode ser a nossa relação com eles. A cobrança, a exigência e a intolerância são os nosso maiores inimigos nesse momento.

Cobrar que nossos filhos realizem todas as atividades, até a última linha, sem espaço para conversa ou flexibilidade pode resultar em danos enormes para o aprendizado. A criança pode perder o prazer de aprender e a vontade de ir à escola. Isso resultará em um problema com grandes consequências, especialmente para que crianças menores que têm muitos anos de escola pela frente.

6- Crianças intimidadas

A criança pode criar medo de perguntar ou expressar opiniões contrárias. Isso pode transformar a criança em um adulto inseguro, passivo e que não saiba impor os seus limites.

A criança pode criar expectativas muito altas para si mesma podendo se tornar um adulto frustrado, que não sabe lidar com as próprias limitações ou com um adulto que nunca vai se achar bom o suficiente.

A escola e os professores terão problemas muito maiores se esses forem os alunos que voltarem para a sala de aula. O atraso no conteúdo programático pode ser compensado pelos professores. Eles estudaram e têm competência para isso. Contudo, eles não podem realizar um bom trabalho numa sala com crianças emocionalmente instáveis. Nossa prioridade é cuidar da saúde mental dos pequenos, promover um núcleo familiar harmônico e saudável. O atraso no conteúdo programático pode ser compensado, o atraso emocional ou possíveis traumas gerados em casa durante a quarentena podem ser mais difíceis de serem superados.

Autor Redação Mães de Jundiaí

Redação Mães de Jundiaí

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