A importância de incentivar a imaginação na infância do seu filho

Por Ainah Corrêa

 

Em tempos de muita tecnologia, as crianças cada vez mais têm acesso a uma infinidade de informações e estímulos advindos da palma dos celulares, tablets, vídeo games e demais aparatos tecnológicos. O excesso de brincadeiras movidas aos carregadores eletrônicos, pode deixar as crianças com mais preguiça mental, sem os estímulos sensoriais e principalmente sem a mais importante aliada da infância: a imaginação.

Sair do mundo real e ser capaz de explorar outros mundos, com diferentes personagens, cores e vozes, criados pela própria criança, é de extrema importância para que ela não tenha medo de ser livre e de ser capaz de dar soluções não tradicionais e esperadas aos problemas do dia a dia, típicos dessa fase de descobertas.

Desenvolver uma mente criativa adulta depende dos estímulos oferecidos ao indivíduo na sua fase infantil. Roteiristas de cinema, publicitários, escritores, pintores, escultores e artistas, geralmente se tornaram profissionais que tem a criatividade como peça chave, porque foram incentivados e bombardeados com muitas referências positivas ao estímulo da imaginação: livre acesso às artes, à literatura, ao cinema, aos desenhos, livros, gibis, mangás, esportes, brincadeiras ao ar livre e muito pé no chão, no barro, na grama, nas árvores.

Um dos principais redatores publicitários, Fernando Duarte, responsável por grandes campanhas publicitárias de sucesso na agência AlmapBBDO, nos concedeu uma entrevista mostrando com ricos detalhes, como a sua infância influenciou a sua trajetória profissional e como as suas referências vem de um tempo em que o mundo lúdico era maior do que o mundo real tecnológico. Confira na íntegra:

 

 

Como foi a sua infância e como ela te incentivou a seguir a carreira de redator publicitário?

Sou o filho (bem) mais novo de quatro irmãos. Minha irmã mais velha tem quase 20 anos a mais que eu e meu irmão mais novo é dez anos mais velho que eu. Uma parte da minha infância que eu não lembro, mas que eles sempre gostam de se gabar é que eu aprendi a ler em casa, antes da escola. Eu perguntava para eles o que dizia determinada logomarca, etiqueta, placa, etc. e eles me ensinavam. Em seguida foram os gibis da turma da Mônica, que o marido da minha irmã mais velha assinava e, assim que lia, repassava para mim. Eram pilhas e pilhas. Meu irmão colecionava gibis do Homem Aranha e esses eu tinha que pegar escondido. Minha outra irmã trabalhava no Banco do Brasil e tinha acesso a uma biblioteca infantil, então toda semana ela trazia um livro diferente para lermos. Então, pode-se dizer que recebi muito incentivo para ler o tempo todo. E sendo o temporão da família, sem nenhum irmão de idade próxima para brincar, imagino que qualquer maneira de me manter ocupado sozinho era bem-vinda. Pelos mesmos motivos sempre fui uma criança imaginativa, tinha que criar meus próprios cenários e universos para me divertir sozinho, dando “espadadas” em inimigos imaginários e tendo longas conversas com personagens das histórias que eu mesmo criava. Essa capacidade quase natural de criar cenários e situações e a afinidade com a leitura foram me empurrando para as ciências humanas durante toda a escola. 

 

Quais foram as suas principais referências na infância? Essas referências influenciam o seu processo criativo hoje?

Quadrinhos, desenhos animados e livros. Passei a primeira infância inteira sem vídeo-games ou TV a cabo. Então, tinha apenas a grade infantil da TV aberta para assistir, limitando de certa forma o tempo que eu passava “no sofá”. Além das novelas, que assistia com meus pais a noite. Minha própria família também é referência, todo almoço era repleto de piadas, tiradas espirituosas, anedotas do meu pai ou discussões sobre história, literatura e outros assuntos. 

 

Como você escolheu a carreira de redator publicitário?

Na adolescência eu era quase o compositor oficial da turma de musiquinhas e gritos de guerra, ou aquele que os amigos procuravam quando o trabalho era escrever uma peça de teatro ou encenar uma propaganda de um produto fictício. Ao chegar no vestibular eu tinha certeza que queria trabalhar com algo relacionado a escrita então fiquei na dúvida entre jornalismo e publicidade, mas depois de alguns conselhos de professores e profissionais das áreas, além de algumas feiras universitárias definiram o curso que eu faria. Depois disso, vendo a grade eu sabia que queria ser redator, mesmo sem saber exatamente o que um redator fazia. Por sorte, quando entrei no mercado, o que um redator fazia era bem o que eu queria fazer.

 

 

Qual campanha publicitária marcou a sua infância?

Algumas, uma memória que eu tenho bem clara é ver um anúncio de Havaianas cujo título era “Surfista é que nem o Adão, perde umas costelas mas ganha a mulherada” em uma revista quatro rodas e pensar, “que frase inteligente”. Mal sabia eu que aquilo era feito por um redator publicitário. Outras publicidades que me marcaram muito foram as formiguinhas, da Philco e uma campanha de Lego, estrelada pelo Luís Fernando Guimarães, que ensinava as crianças a pedir Lego para seus pais com o argumento que era educativo. Outros tempos… 

 

 Você já criou algum filme para o público infantil? Como foi a experiencia?

Especificamente para o público infantil, não. As regras sobre publicidade infantil datam bem do ano que entrei no mercado, então pedidos de campanhas adereçando crianças tornaram-se raros, quiça inexistentes. O que já fiz foi fazer filmes que acabaram fazendo sucesso com crianças, o último exemplo disso é um  comercial criado para Ruffles, divulgando uma promoção relacionada ao homem aranha. A ideia era utilizar um homem aranha de alguma das carretas do brasil dançando para mostrar quão feliz ficaria o vencedor da promoção. Desde que a publicidade foi pro ar, diversos colegas, amigos e conhecidos vieram falar comigo sobre como seus filhos amam esta publicidade e querem assistir em looping. 

 

Quais recomendações você daria para os pais para incentivarem a criatividade nas crianças?

Ao meu ver o desenvolvimento da criatividade é um processo solitário e que realmente se manifesta no ócio, então eu odiaria ser o tipo de criança com uma agenda cheia de compromissos, cursos etc. Minha impressão é que a criança também precisa de um tempo com ela mesma. É aí que ela vai brincar, imaginar e criar. Ao mesmo tempo, incentivar a leitura é sempre um bom negócio, não preciso nem começar a falar sobre tudo que ela ajuda no desenvolvimento infantil. Mas é aquele ditado, nada educa tanto quanto o exemplo, então não adianta nada você querer que seu filho seja um leitor ávido se ele nunca vê você abrindo um livro. 

Autor Redação Mães de Jundiaí

Redação Mães de Jundiaí

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