Especial Mães: O divórcio, um bebê e minha força

Depoimento de Camila Mocho     

Meu nome é Camila Mocho e sou mãe do Lorenzo, de quase 5 anos. Nos idos de 2010 eu engravidei! Meu relacionamento naquela altura já havia terminado, eu era casada e estávamos em um momento de separação. Havia aproximadamente uns três meses que ele tinha saído de casa. Fora um relacionamento intenso de cinco anos quase e eu já tinha decidido que havia acabado. Depois de duas sessões “remember” no churrasco dos amigos da faculdade aconteceu o que não aconteceu durante nosso relacionamento. Uma gravidez!

Tudo mudou e tudo melhorou de fato. Durante a gravidez foram 9 meses de lua de mel, sim ele voltou para casa e eu fui extremamente feliz! O bebe nasceu e as coisas aos poucos voltaram a tomar o rumo que estavam tendo na fase em que me decidi pela primeira separação, aquela lá de antes do churrasco da república. Segurei a onda durante um ano e meio. Não pelo bebê, pois eu nunca fui dessas que acredita que criança segura casamento e nem que casamento deve se manter por causa da família. Filha de pais separados que não se dão bem (nem me lembro se um dia se deram) eu, mesmo tendo tentado com afinco escrever uma história diferente para mim e meu filho, sempre lidei bem com uma aceitação enorme acerca do divórcio. Pois bem, separamo-nos de novo, por iniciativa minha de novo, mas num processo MUITO mais complicado e exaustivo emocionalmente.

O fato é que daquele momento em diante éramos eu, meu filho e nossos cachorros. Eu morava na cidade onde fui fazer faculdade e fui ficando. Toda minha família em São Paulo e minha mãe fora do Brasil. Sim, lá eu tinha uma forte e ampla rede de amigos e amigas que foram minha base de verdade, só que vida de mãe solo longe da família é “fogo no boné do guarda” como diria meu pai.

Eu, engenheira agrônoma por formação, acabei por nunca me dedicar de fato à agronomia, pois durante a faculdade eu focava meus esforços em aulas de inglês para incrementar a renda e após a formatura logo veio a cria.

Fui levando como dava, muita mágoa no coração, um período muito conturbado, emoções a flor da pele contra o pai do meu filho, contra o sistema, contra tudo. A terapia super ajudou! Foi um mergulho profundo em mim. Com isso aos poucos fui tomando decisões que até hoje não sei se foram e são certas, mas a gente vai tentando sabe?

Batalhei legal e fui trabalhar período integral com criança em escolinha integral. Dava uma aula e outra de inglês nos intervalos e me desdobrava em mil. Cama compartilhada e aleitamento materno em livre demanda até os 2 anos e 3 meses. As vezes eu me sentia exaurida, mas não dava tempo sequer de ficar triste, pois eu não tinha essa folga. Aquelas coisas que eu lia sobre mães de recém-nascidos eu senti após o divórcio. Um corre-corre danado, sono pingado, preocupações, cansaço e muita solidão. Foi punk! O primeiro ano foi bem difícil.

Meu filho desenvolveu dermatite atópica, uma alergia na pele de cunho emocional, e tentei todos os médicos, tratamentos e exames. Sem sucesso, naquela época. Hoje tudo muito equilibrado graças a acupuntura.

No segundo ano resolvi “legalizar” o divórcio e estabelecer os papéis perante a lei. Não que tenha adiantado muito, mas ao menos eu me desligava legalmente de um passado que eu queria desapegar e achava poder contar com divisão de responsabilidades. As coisas não mudaram muito. Do jeito que era ficou nada mudou. Mas eu estava mudando. Sentia que estava me fortalecendo e me nutrindo da forma como eu conduzia a minha vida.

Descobri com a maternidade e com o trabalho que mesmo que fosse num lugar e com pessoas que eu amava, o regime CLT não era para mim e que Piracicaba já não era mais o meu lugar. Meu filho precisava de mim e eu dele. Já que seríamos só nós dois eu queria que fosse por inteiro!

Fui quebrando a cabeça e procurando alunos e textos para tradução. Fui dando meus pulos e compondo a renda fazendo o meu próprio horário. O pequeno passou a ir à escola em período integral somente duas vezes por semana e eu estava feliz com a rotina. Mas não estava nem de longe realizada profissionalmente ou contemplada financeiramente para o básico. Eu continuava mudando…

Com mil ideias de negócios, fiz diversos planos e assumi um mundo onde eu era autônoma e poderia tocar a minha vida com determinação para viver com qualidade com meu filho.

Decidi abrir minha própria empresa, estudei muito e fiz cursos. Participei de mentorias e fui tecendo aos poucos um novo rumo. Escolhi uma nova cidade que não fosse muito longe do pai dele, mas que fosse mais perto da minha família e foi aí que vim parar em Jundiaí!

Das lutas e mazelas de ser mãe solo, empreendedora, faxineira, cozinheira, petsitter entre outras ‘cositas’ o que eu mais posso dizer é que quando tá tudo errado – tudo mesmo! Tudo, tudo, tudo!!! – basta pegar o meu parceiro nos braços e ver aquele sorrisinho lindo!

Temos uma relação muito bacana, eu vejo que ele me vê com orgulho quando eu estou em “ação” e ele até planeja ter seus próprios mini-negócios olha só! Ele adora dizer que é meu parceiro e de fato a gente faz tudo junto. Ele está sempre comigo e eu aprendi a me divertir também com ele. Se eu quero ir a um show ele vai junto e quando ele quer ir ao teatrinho eu vou também. Só não sou lá muito fã de parquinho, mas aí a gente troca, ele me acompanha em algum compromisso e se comporta e eu vou no parquinho com ele!

Temos uma linguagem muito bacana, as vezes as pessoas estranham, ele tem apenas 4 anos mas ele é o homenzinho da minha casa! Então aqui é de igual para igual! Conversamos e resolvemos tudo juntos. É uma paulada as vezes, um corre-corre. Tem dias que eu não tenho quem o pegue na escola, então não dá para marcar aquela reunião. Quando falta dinheiro para completar as contas do mês e eu dou aquela surtada começo a mandar curriculuns, só que logo eu penso no horário comercial, em trabalhar de sábado… Impossível! Não dá nem para trabalhar, quanto mais para sair para balada! Hahaha! Eu sinto um enorme orgulho e inspiração pelas mães solos CLTs que conseguem essa façanha. Tenho amigas íntimas com filhos na mesma idade que o meu e que fazem isso e me deixam de boca aberta! Sou só aplausos para elas!

Só que eu não posso reclamar! Aos poucos fui pegando o ritmo da rotina, é uma vida corrida, apertada, com concessões de um lado, privações de outro, mas muita risada e companheirismo! Com o tempo fui acalentando o coração quanto às magoas que ficaram e fui aprendendo a compor as coisas com paciência e determinação. Minha principal razão para tudo é meu filho e a nossa vidinha. E eu sempre me suporto na lei do retorno, estou construindo um lindo caminho e educando um mocinho para ser um grande rapaz. Com isso confiante que estamos no caminho certo! Mas que cansa, ah isso cansa!

Mas aí tem aquele momento que ele dorme e que eu tomo uma taça de vinho e a paz vem… Mas amanhã… Ah, amanhã começa tudo de novo!

 

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Autor Redação Mães de Jundiaí

Redação Mães de Jundiaí

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