A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que em países em desenvolvimento mais de 50% das crianças menores de 4 anos apresentam deficiência de ferro. Até em países desenvolvidos a anemia apresenta níveis crescentes de prevalência, tornando-se um grave problema de saúde pública. No Brasil, estudos regionais com crianças de diferentes faixas etárias apontam variação de 28 a 68%.
Anemia é a condição na qual ocorre queda da hemoglobina no sangue. A hemoglobina é a responsável pela coloração avermelhada da pele e pelo carregamento do oxigênio aos tecidos, o que gera a energia para as atividades diárias. Muitas são as causas de anemia, ela pode ser congênita ou adquirida, mas a que nos interessa aqui é a anemia carencial, consequente da falta de ferro.
Ao contrário dos adultos, a anemia em crianças não é uma doença silenciosa. Os primeiros estágios da deficiência de ferro geralmente não apresentam sintomas, mas a anemia instalada vai sempre cursar com alterações clínicas como palidez, fadiga, fraqueza, sono excessivo e inapetência (falta de apetite), que são os principais sintomas. A criança também pode ter alguns desejos alimentares estranhos, como vontade de comer terra ou tijolo.
Segundo a Dra. Bianca Zanchetta Buani Miguel, Nutrologa do Hospital Universitário de Jundiaí, com 10 anos de experiência em terapia nutricional hospitalar com expertise em criação e administração de Equipes Multiprofissionais de Terapia Nutricional, a maioria dos casos ocorrem entre os 9 e 12 meses de vida, época em que geralmente se faz a introdução da dieta da família e da mamadeira (na maioria das vezes leite de vaca integral). “Muitas vezes essa fase de transição não é “bem aceita” pela criança, simplesmente porque é uma questão de aprendizado, e os pais, por inexperiência ou falta de orientação adequada, interpretam como a criança não gostando dos novos alimentos e deixam de insistir na oferta de alimentos saudáveis justamente numa fase da vida em que eles são tão importantes. Além disso, principalmente até 18 meses de vida, ocorre o rápido crescimento e desenvolvimento do organismo que requer uma demanda aumentada de ferro”, disse Bianca.
O tratamento mais indicado é a inclusão de alimentos ricos em ferro na dieta da criança. “Carnes são alimentos com uma quantidade elevada de ferro, principalmente o fígado de boi. Além disso, folhas escuras também são ricas nutricionalmente como é o caso da couve, chicória, mostarda, rúcula e agrião”, salientou a dra.
Em algumas circunstâncias, pode ser necessário o uso de suplementação de ferro e de vitamina B12 na dieta da criança, o que deve ser prescrito por um médico especialista. Ao suspeitar da condição a criança deverá realizar os exames: hemograma e ferritina.
Dra Bianca faz um alerta. “É comum encontrar nos supermercados itens dedicados aos pequenos, que mostram na embalagem que são enriquecidos com ferro. Mas nem sempre o ferro utilizado para turbinar o alimento processado é aquele melhor absorvido pelo organismo. É importante entendermos que os alimentos in natura são os melhores para toda a família”.
Além de ser extremamente frequente, a anemia não tratada pode interferir na cognição, inteligência e na capacidade dos pequenos em adquirirem novas habilidades. “Ouvimos com certa frequência dos pais: Ah, meu filho não presta atenção na aula, é desatento, não se concentra. Será que essa criança taxada de preguiçosa não está com uma fadiga (cansaço) tão excessiva e com dificuldades de aprendizagem por conta de uma anemia?”
Por isso, é fundamental saber como prevenir, reconhecer os principais sinais que indicam o problema e o tratamento.