O bullying e a dislexia: conscientização para abraçar a diversidade

A escola proporciona experiências que ampliam a visão de mundo da criança e favorecem seu desenvolvimento socioemocional. Porém, ao mesmo tempo em que as diferenças podem (e devem) ser enriquecedoras, também podem gerar conflitos se não forem abordadas adequadamente em sala de aula.

Sabe-se que crianças disléxicas podem ser vistas negativamente como diferentes, tanto por colegas quanto por professores e outros atores escolares. Com isso, o bullying pode se tornar um dos grandes entraves que crianças disléxicas enfrentam para construir sua autoestima e, consequentemente, avançar academicamente – como se já não tivessem desafios o suficiente. Neste contexto, é fundamental aumentar o conhecimento e a compreensão da sociedade sobre a dislexia, bem como de outros transtornos específicos da aprendizagem.

Assim, a primeira informação importante é: o que é dislexia? A dislexia é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta habilidades básicas de leitura e linguagem. Ela tem suas raízes em diferenças nos sistemas cerebrais responsáveis pelo processamento fonológico, resultando em dificuldade para processar os sons das palavras e associá-los com as letras ou sequências de letras que os representam. Não se trata de uma doença, não tem “cura” e não é déficit de inteligência.

Porém, saber o que é dislexia não basta para eliminar o estigma com que nossa sociedade marca pessoas disléxicas. Pelo contrário, o diagnóstico de dislexia pode marcar ainda mais um estudante e torná-lo alvo preferencial de bullying. O fundamental, portanto, é a compreensão de que, embora aprendam de um jeito diferente, os alunos disléxicos são tão capazes e “inteligentes” quanto seus colegas.

Guilherme Chaves, 26 anos, analista sênior da agência FSB Comunicação, teve sua dislexia diagnosticada já adulto – o que não é incomum, já que esse diagnóstico requer uma avaliação profunda e abrangente, conduzida por equipe multidisciplinar. Hoje com uma carreira bem-sucedida na área de comunicação, ele lembra ter sofrido em alguns momentos na escola: “Durante a infância, houve alguns episódios de piadas de colegas, tipo ‘analfabeto’ ou ‘burro’, mas não era uma perseguição constante. Porém, ler em voz alta ou escrever na lousa era um desafio. E muitas vezes, os professores interpretavam isso como preguiça ou falta de leitura”.

Chaves aponta para um fator essencial no sucesso escolar de pessoas com dislexia: a conscientização dos profissionais de educação. Se o professor não conhecer o impacto da dislexia no processo de aprendizagem, será muito difícil que ele use estratégias pedagógicas que atendam às necessidades específicas de alunos disléxicos. O resultado pode ser desde a precariedade no desenvolvimento desses estudantes – que, mais tarde, terão que recuperar a defasagem, se tiverem a oportunidade – até a evasão escolar. E, ao longo de todo esse processo, o impacto socioemocional também poderá ser grande.

Para Nicolas de Camaret, diretor executivo do Instituto ABCD, “nos anos 2000, eu tinha muita dificuldade de acompanhar os colegas de classe. Quando tive a oportunidade de morar fora, enfim fui diagnosticado com dislexia, entre os 8 e 10 anos. Só então fui incentivado a usar ferramentas tecnológicas – como o computador, por exemplo – para aprender. Foi um passo importante para meu desenvolvimento pessoal”, afirma.

O diagnóstico, aliás, é importante para que o estudante com dislexia possa buscar uma educação de qualidade. No entanto, muitas vezes leva anos para que a escola e a família suspeitem de dislexia e, quando isso acontece, o acesso a profissionais especializados para o diagnóstico nem sempre é fácil. Isso faz com que a criança, seus colegas e professores não entendam o motivo por trás daquela dificuldade de aprendizagem. E esta falta de informação pode ser bastante prejudicial para a autoestima do aluno e torná-lo vítima de bullying e injustiças. Sem conhecimento, a família também acaba ficando bastante desamparada.

Conscientização

“A conscientização sobre a dislexia é fundamental para fortalecer a autoestima dessas crianças. É por este motivo que trabalhamos desde 2009 para disseminar informações e ferramentas que auxiliem famílias, professores e alunos sobre a dislexia”, afirma Julia Braga, gerente de produtos e desenvolvimento do Instituto ABCD.

Para além da criança com dislexia e sua família, é muito importante que seus colegas e professores também se conscientizem de que a dislexia não é um impedimento para o sucesso acadêmico, profissional e pessoal. Grandes personalidades com dislexia provam isso, como Lewis Hamilton, Steven Spielberg, Jamie Oliver e Steve Jobs, entre outros. Informação e conhecimento devem ser premissas básicas para uma educação mais inclusiva.

Autor Redação Mães de Jundiaí

Redação Mães de Jundiaí

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