Em 2016, aos 3 anos, Bia deixou suas chupetas na árvore de Natal, com um copo d’água, biscoito e bolachas.
Com isso, deixou também o último resquício de ainda se sentir um bebê.
Pois então, vou contar essa história desde o início.
No começo de 2016 ouvimos da pediatra e da dentista que a Bia precisava largar a chupeta. Me fingi de surda. Ela ia mudar de escola, passar por nova adaptação. Não ia rolar. Logo depois ela estava pronta para o desfralde. Vamos esperar mais um pouco. Nas férias de julho, tirei a mamadeira.
Pronto, não tinha mais motivos para adiar. Então pensei… no Natal. E em agosto eu iniciei os primeiros passos para amenizar o susto da retirada total. No carro não tinha mais chupeta. Era o primeiro lugar que ela pedia. Em casa ela ficava sem numa boa, mas a agitação durava até a hora de deitar, quando finalmente encontrava a chupeta na cama. Então ela começou a segurar o cocô. Caramba, ela chegava a fazer na calça, mas se recusava a ir ao banheiro.
Louca de preocupação, perguntei para minha psicóloga o que eu podia fazer.
“Nesta idade a única coisa que eles têm controle é o cocô. Por acaso ela está perdendo algo importante pra ela?”
Bingo!
Comecei a dar a chupeta uma hora antes dela finalmente ir dormir e… cocô normalizado e, melhor, noites melhores e mais calmas.
Durante os meses fomos conversando com a Bia, perguntando para quem ela daria as chupetas e o que ela queria do bom velhinho. E ela mesma sustentava essa ideia. Contou para as pessoas, inclusive para o Papai Noel do shopping!
No dia 24/12, esquematizamos tudo. Colocamos na árvore as chupetas (as 2 que ela tinha, para não corrermos o risco dela se lembrar que não tinha dado todas) e contamos a história de que o Papai Noel viria com fome e sede, então tinha um copo d’água, bolachas e biscoitos para as renas.
Fomos para o carro e o papai acabou ‘esquecendo uma coisa’, voltou em casa, pegou as chupetas, colocou o presente que ela escolheu, deu uma mordida na bolacha e biscoito e tomou a água.
Depois da festa, eu estava crente que a pequena voltaria dormindo no carro. (sqn!!!) Estava pedindo pela chupeta o trajeto todo. Confesso, eu estava tensa. Conversamos, veríamos se o Papai Noel já tinha passado em casa.
Quando viu o presente (era uma caixa grande) ela começou a chorar muito. Não quis saber! Fomos para cama e ela, muito cansada, acabou dormindo, chorosa.
A primeira semana foi ENSURDECEDORA! Ela pediu muito, chorou muito. Por vezes ficou chorando uma hora sem parar. Foi tenso, cansativo. Muita gente dizendo para eu devolver, outras tantas me dizendo pra eu ser firme.
Se eu não devolvo, sou taxada de pior mãe do mundo.
Se eu devolvo, me sinto fraca no que me propus.
Não, não queria deixar minha filha sofrer. Mas pensava na saúde dela! Isso pra mim era o mais importante. Ela passaria por aquilo em algum momento.
Depois a sofrência foi amenizando! Ela se viu capaz de dormir sem chupeta. E eu também vi que era possível ela ser uma criança sem o apego por aquela borracha!
Bia ficou mais brava, não aceitava ouvir não. Ela vira e mexe pedia, chorava, principalmente se estava cansada, com muito sono. Aliás, isso também alterou demais na rotina. Os horários de dormir acabaram todos bagunçados. Talvez o que mais me dificultou.
Ela também estava numa transição de bebê para criança. Estava difícil para ela saber que estava crescendo, virando uma mocinha, porque por mais independente que ela queira ser, ela ainda quer sentir que é aquele bebezinho dependente.
Alguns dias depois ela me pediu pra ligar para o Papai Noel. Não quis dizer o que era pra falar com ele, mas eu sei. E sempre que ela chora sem motivo, eu também sinto que é saudades. Mas está amenizando! E eu tenho a certeza em mim que foi uma decisão necessária, importante e que reflete muito amor. Principalmente porque foi uma decisão em conjunto, mamãe, papai e filha. Mesmo sem ela entender direito, foi ela quem decidiu deixar as chupetas na árvore.
Ah, ela não rejeitou o brinquedo e muito menos passou a odiar o papai Noel!!! UFA!!!!