* Por Flávia Alves
Esta semana passamos um sufoco. Por pouco, a lei municipal, em vigor desde 2015, que permite o acesso de doulas nos hospitais de Jundiaí, não foi prejudicada. Com a ampla mobilização nas redes sociais, muitos compartilhamentos e comentários no post que fiz logo que tomei ciência da proposta e, principalmente, com a união do Coletivo de Doulas de Jundiaí e região, conseguimos reverter a situação.
Na tarde de terça-feira, no dia da sessão que teria como um dos itens a alteração, eu e mais nove doulas da cidade nos reunimos com o vereador Douglas Medeiros para solicitar a retirada do projeto e, depois de explicarmos o que poderia acontecer caso a emenda fosse aprovada, ele acatou nosso pedido.
No dia anterior, recebi uma mensagem do ex-vereador Paulo Malerba (autor da lei) questionando se tínhamos muitos problemas de acesso aos hospitais da cidade. Temos sim, mas são dificuldades das próprias instituições que não cumprem o que determina esta lei municipal e tampouco outras determinações e recomendações da Organização Mundial de Saúde e do Ministério da Saúde.
O projeto dizia “é facultado aos estabelecimentos editar regulamento interno, com observância desta lei, fixando os procedimentos inerentes à atuação das doulas…”. Conforme nossa interpretação, o texto abria a possibilidade para que os hospitais fizessem como bem entendessem o nosso acesso para acompanhar as famílias no processo de parto.
Seria um imenso retrocesso já que, infelizmente, algumas instituições deixam a desejar quanto aos direitos das mulheres na hora de terem seus filhos e oferecendo esta “autonomia” para os hospitais, não seria favorável a atuação das doulas e mulheres que escolhem ter este tipo de acompanhamento.
Isso não é um problema exclusivo de Jundiaí. É uma demanda nacional doulas sofrerem restrição em vários locais e muitas famílias têm negado esse benefício recomendado, inclusive, pelo Ministério da Saúde.
Importante que todos saibam que não é apenas o nosso trabalho que está em jogo. É uma questão de saúde pública, já que nós, as doulas, oferecemos uma assistência individualizada à mulher, com apoio físico e emocional durante o parto. Reduzindo em 50% as cesarianas, 60% os pedidos de analgesia, 40% uso do fórceps, além de outros benefícios entre eles aumento da satisfação com o parto, redução das chances de depressão pós-parto e benefícios com a amamentação.
Quem somos?
Doula é a profissional treinada para acompanhar a mulher durante o parto. Nosso trabalho começa ainda na gestação, com diversos encontros com a mulher e sua família para informar tudo sobre o trabalho de parto, parto e pós parto, contribuindo para que a mulher possa se empoderar, resgatar e fortalecer sua confiança no processo natural de dar a luz. Auxiliamos na escolha do local do parto, profissionais que poderão fazer parte da equipe que irá assisti-la e muito mais.
Ficamos a disposição desta mulher e, no momento, em que ela entrar em trabalho de parto, vamos ao encontro dela e acompanhamos todo o processo, alguns partos são rápidos, mas, outros são longos e difíceis
. Largamos o que estamos fazendo, seja a hora que for, final de semana ou feriado. Deixamos filhos, família e outros compromissos para estar de corpo e alma para esta mulher.
Eu acho que é muito mais do que um chamado, uma vocação. Estar à disposição de outra pessoa, neste momento sublime da vida é um presente magnífico. Aprendo mais e mais a cada parto, com cada mulher. Aprendo principalmente sobre respeito, sororidade, empatia, doação e amor.
Já dizia o médico e pesquisador americano autor da pesquisa que mostra os benefícios da doula: “Se doula fosse um remédio, seria antiético não receitar”.
* Flávia Alves – Jornalista e Doula há quase 7 anos, casada com Leandro, mãe do Gabriel, Felipe, Giovana, Laura e Isabela. Coordeno a Casa Amare, espaço de acolhimento a gestantes e famílias.