Há pouco tempo vivenciei uma situação que não era nova para mim: a perda gestacional. Como psicoterapeuta especializada no atendimento a mulheres, já atendi vários casos como o que passei, como também de perda neonatal e de filhos mais velhos. Já estudei sobre luto, sobre as fases, sobre lutos complicados e tantas outras variáveis nesse processo.
Também já havia convivido com algumas amigas próximas que passaram por essa experiência.
Eu conhecia bem o processo, mas de um outro lugar. Vivê-lo, obviamente, foi algo totalmente diferente e extremamente doloroso. Teorias e conceitos não amenizaram a minha dor.
Trago essa experiência pessoal para partilhar com vocês, para que possamos olhar para a forma como lidamos com nossas dores, nossas perdas.
Quem valida a nossa dor? Será que nós validamos?
Te convido a olhar para os momentos difíceis que passou ou esteja passando. Como você lida com esses momentos? Como lida com sua vulnerabilidade?
Percebi o quanto há pouco espaço para a dor. Desde a nossa própria dificuldade para lidar com aspectos da nossa vulnerabilidade. E a dificuldade do outro, de também se vulnerabilizar diante da nossa dor.
Ao expor minha história, recebi inúmeras mensagens de mães que também passaram por essa perda, mas não se deram o direito de chorar. Sentiram vergonha, culpa. “Tocaram” o barco, sem ao menos se permitirem se despedir com dignidade de seus sonhos não realizados.
Mulheres que após anos, ainda não conseguem falar do assunto, mulheres que choram sozinhas no banheiro. Mulheres que escondem a perda, por se sentirem menores. Mulheres que se sentiram julgadas em suas dores, desqualificadas.
São muitas vozes silenciadas. Muitos choros abafados. Muita tristeza jogada para debaixo do tapete.
E uma das condições básicas para que o processo de elaboração de luto aconteça, é darmos voz a nossa dor. Aprender a validá-la sem julgar como certo ou errado.
Essa validação precisa vir primeiramente de quem está vivendo o processo: de nós mesmas. Aprender a respeitar nossos limites, nossas necessidades. Aprender a pedir ajuda, a se fragilizar.
Não permita que ninguém invalide sua dor. Mas principalmente, não se permita fazer isso com você mesma.
Talvez sua dor não seja a de uma perda de um filho, mas quantos “lutos” passamos em vida?
Uma separação, uma demissão, uma doença. Não importa. São nossas dores.
Como você tem cuidado da sua?