Bullying não é coisa de criança! Hoje, o bullying – conjunto de comportamento agressivos, intencionais e repetitivos entre alunos, causando intimidação – é uma das maiores preocupações das instituições escolares. De acordo com o IBGE, mais de 40% dos estudantes já sofreram com o problema. Por isso, é fundamental que a escola aja para sanar o problema ainda na educação infantil, momento em que as crianças começam a socializar e fazer descobertas sobre si e sobre os colegas, além de estarem em desenvolvimento de caráter – oportunidade para incentivar o respeito às diferenças e singularidades de cada um.
Julianne Pesciotto, diretora pedagógica do Colégio Ápice, de Jundiaí, enfatiza que bullying se apresenta de múltiplas formas, desde apelidar, agredir, humilhar até ameaçar para causar sofrimento a vítima. “E o caminho para acabar com este problema está, justamente, na base. Não podemos fechar os olhos e imaginar que, lá na frente, essas crianças não estarão sujeitar ao bullying. Ignorar é, sim, parte do problema”, garante.
Por isso, é essencial que as escolas trabalhem questões inerentes ao tema ainda na educação infantil, abordando os sentimentos das crianças, ensinando o certo e errado de forma lúdica, com ações educacionais e políticas pedagógicas. “As crianças não nascem com empatia. Elas aprendem a regular suas emoções por meio da interação; por isso, é importante que família e escola trabalhem juntas conceitos como empatia, diversidade e diálogo”, afirma a pedagoga.
Ela destaca que autoconhecimento ainda na fase infantil pode auxiliar no combate ao bullying por toda a vida escolar do aluno – e ele pode ser desenvolvido de diversas formas. Neste sentido, pesquisas da Universidade de Toronto sugerem que as histórias tendem a agir como “simuladores de voo” para a vida social. A literatura tem o poder de abordar o tema com linguagem didática e lúdica para os pequenos, além de criar oportunidades para discutirem os sentimentos e valores que alimentem a convivência solidária e saudável entre os colegas.
Além disso, outras atividades podem incentivar a exploração dos sentimentos, autocuidado e o cuidado com o outro, entre as mais efetivas estão: debates que deem abertura para os pequenos falarem e ouvirem, jogos em equipe para promover a colaboração, atividades solidárias, artes coletivas, além das palestras interativas e rodas de conversa. “É extremamente importante propor brincadeiras que estimulem a sociabilidade através do contato com a diferença, para aprenderem a se relacionar e cooperar entre si. Trabalhar o preconceito pode mudar a cultura do bullying nas escolas: mostrar para os alunos que as bases dos preconceitos são frágeis faz com que respeitem as diferenças e convivam de maneira harmoniosa durante toda vida escolar”, lembra a diretora pedagógica do Colégio Ápice.
E como os apelidos são as maiores manifestações de bullying, com recorrência em 54,2%, as atividades lúdicas para os pequenos são importantes para combater esse problema, ajudando a refletir sobre o que sentem aqueles que recebem os apelidos pejorativos. Todavia, incentivar os alunos desde pequenos a se enxergar e enxergar o outro como alguém de valor é muito importante. Por isso é fundamental que escola se proponha a desenvolver a capacidade de ouvir o outro e gerenciar os conflitos ainda na educação infantil.
Julianne Pesciotto destaca ainda que o bullying é uma ação intencional ocasionada pela falta de habilidade de lidar com os sentimentos, o que leva crianças e adolescentes a expressá-los com violência. Portanto, cabe à escola e à família permitir o aluno tenha acesso às ferramentas necessárias para saber lidar com os seus colegas e com suas emoções, podendo decidir o que fazer com elas de forma sempre positiva. “Para superar o bullying é essencial haver acolhimento, a fim de que os estudantes se sintam confortáveis para falar sobre suas emoções e relações interpessoais”, conclui.