A endometriose é uma doença inflamatória caracterizada pelo crescimento ectópico de endométrio, mucosa que reveste internamente o útero. Nessa condição observa-se tecido semelhante ao endométrio se desenvolvendo fora da cavidade uterina, acometendo outros órgãos como ovários, bexiga, trompas, intestino e septo retovaginal. O aparecimento dessa doença pode acontecer a partir da adolescência, atingindo normalmente mulheres entre 15 e 49 anos; sendo raro na pré menarca e na pós-menopausa. Por isso, é preciso ficar atento às intensas cólicas menstruais, um sinal de alerta principalmente quando mostram um agravamento progressivo.
A doença ocorre possivelmente em decorrência da chamada menstruação retrógrada, processo em que o refluxo menstrual vai pelas tubas uterinas em direção à cavidade pélvica. Porém, ainda não existe uma causa bem definida para que isso ocorra. Há uma suposição que esse processo pode surgir por fatores imunológicos e genéticos, dentre outros.
De acordo com o Ginecologista prof. Dr. Armando Antunes Junior, vice-diretor clínico do Hospital Universitário de Jundiaí, cerca de 90% das mulheres apresentam refluxo menstrual, mas apenas 10% dessas mulheres desenvolvem a doença. “A endometriose acomete cerca de 20% de mulheres em idade reprodutiva e corresponde a 40% das queixas de dor pélvica crônica nos consultórios”, ressalta.
Dr. Armando reforça que a doença é muito mais comum do que imaginamos, principalmente nos casos iniciais e que é preciso estar muito atento a queixa clínica da paciente, pois pode variar de mulher para mulher e explica alguns sintomas:
• A dor pélvica é o principal sintoma. A dor é habitualmente intensa e cíclica (coincide com a menstruação), eventualmente associada a menstruação abundante. Os sintomas podem iniciar dias antes da menstruação. As dores podem variar muito em intensidade e nem sempre a intensidade da dor se correlaciona com a extensão da doença, ou seja, doentes com pouca dor podem ter doença extensa e vice versa. Esta dor é, por vezes, difícil de distinguir de uma simples dismenorreia (dor tipo cólica no período menstrual), que é muito comum.
• Na endometriose profunda (infiltrativa), os sintomas podem incluir dor na relação sexual, dor lombar e no baixo ventre. Se a bexiga ou intestino grosso estiverem envolvidos, poderá existir perda de sangue cíclica (coincidente com o período menstrual), na urina ou nas fezes, respetivamente.
Até 35% das mulheres com endometriose têm dificuldades em engravidar; e entre 10% a 25% delas necessitam de tratamento de reprodução assistida. Isto não quer dizer que a gravidez não seja possível: quem tem endometriose pode engravidar naturalmente. Tudo depende da extensão da doença (mais do que das dores) e dos órgãos e localizações envolvidas.
Dr. Armando comenta que o mais importante é que principalmente na endometriose o tratamento tem que ser individualizado, por conta da paciente, idade, desejo de gestação, extensão da endometriose e da sintomatologia da paciente. “A conduta não é padrão para todas. A paciente acaba procurando o profissional por dor ou por infertilidade, às vezes pelos dois motivos”, diz.
Durante décadas as pílulas combinadas tem sido a primeira opção do tratamento, mas não existem evidências científicas de que iniba a evolução da doença. “Pode diminuir a dor, mas não a retração da doença. Além das pílulas combinadas, o tratamento com progesterona isolada também tem sido usado no controle da dor das pacientes com endometriose; tendo já estudos mostrando que esse tipo de tratamento poderia suprimir a extensão anatômica da doença. Endometriomas ovarianos (cistos endometrióticos) que são pequenos podem ser monitorizados por exame de imagens, e se houver crescimento ele poderá ser removido, sempre preservando o máximo possível o tecido ovariano normal e funcional”.