Um belo dia eu acordei, imersa em uma situação que nunca imaginei que iria viver, uma situação inusitada tanto para mim quanto para inúmeras mães ao redor do mundo.
Eu era uma mãe, recém parida, com uma filha mais velha ainda bem pequena, não tinha seus três anos ainda e isolada.
Isolada por um vírus invisível, que nos tornou reféns, isolada pelo medo de contaminar meu recém chegado ao mundo, um mundo que ele nem conhece e que nunca mais vai conhecer pq o mundo mudou, isolada pelos meus, pelos que estão na linha de frente, isolada por algo que veio do outro lado do mundo e nos atingiu em cheio.
Dentro de mim diversos sentimentos o de mãe recém chegada novamente, que mesmo com uma filha pequena estava insegura se iria dar conta novamente, o de mãe de uma menina alegre, inteligente, cheia de energia que entrou nessa situação sem que fosse sua vontade, ganhou um irmãozinho e junto dele um isolamento.
Como explicar a minha pequena que acabou a escola, acabou os momentos de distração, acabou os parques, as aulas de natação, acabou os passeios, os almoços na vovó de domingo, acabou até mesmo as distrações do condomínio onde se tornou seu lar a menos de um ano, e que a mamãe agora tinha que se dividir entre cuidar dela e de um bebê, que a mamãe não poderia brincar naquela hora porque precisava amamentar, que ela não podia fazer aquela bagunça toda porque o bebê estava dormindo, como explicar um vírus que ninguém vê, mas que nos tirou tanto.
Confesso que por dias chorei, chorei de desespero por não ser a mãe que gostaria ou estava acostumada a ser, chorei por deixar um bebê chorando para levar uma criança ao banheiro, chorei por achar que não ia conseguir, chorei pela falta de interação, chorei pelo deserto que a quarentena trouxe, uma mãe mesmo cansada da rotina desgastante de um recém nascido, se alegra em tomar café com uma amiga, com aquela visita fora de hora, mas que no fundo veio na hora certa, uma mãe sempre quer mostrar ao mundo sua nova cria e isso o vírus também roubou.
Entre o cuidar de um o desenvolver o outro, o pesquisar brincadeiras que conseguiria fazer para um sem afetar a atenção com o outro fui me adequando, fui me reinventado, descobri que tinha uma parceirinha para levar a fralda ao lixo, ou para chacoalhar um chocalho para o bebê parar de chorar, descobri que tinha uma ajudante na cozinha, para aquele bolo de café da tarde, descobri que a casa pode sim ficar para depois, a roupa a gente passa se precisar, os dias também passam e as crianças crescem então resolvi aproveitar.
As noites as vezes são longas tenho dois que acordam na maioria das noites em horários bem diferentes, um porque quer colo e mama, a outra para ir ao banheiro ou apenas para pedir um abraço,a cama ficou pequena, mas o amor aumentou.
Em meio a quarentena, em meio ao novo bebê, em meio a uma criança cheia de energia que se limitou a um apartamento pequeno como seu único lugar de refúgio e distração eu me encontrei, uma mãe de quarentena que buscou maneiras de fazer as pequenas coisas serem gigantes, uma mãe que plantou um feijão no algodão, que lavou louças de brinquedo na sacada, que fez um bolo com ajuda, que transformou a sala em cabanas, que fez cinema no quarto, que largou a louça, a roupa, a faxina para outro dia, sentou no chão com um bebê no colo e resolveu só brincar.
Hoje me deparo a quase seis meses em isolamento, afinal meu resguardo acabou e a quarentena começou, confesso que nem sempre consigo ser a mãe que gostaria, confesso que o cansaço bate, que tem dias que a TV me salva para pelo menos almoçar na hora, mas confesso também que o isolamento ajustou o laço entre meus filhos, que aprendi a me divertir em casa com poucos recursos.
Os pensamentos loucos de que não sou boa o bastante para criar meus filhos se foram e eu entendi que para eles o que ficará é o tempo que sentei e brinquei, que chamei para me ajudar em uma atividade de casa, que dividi o chuveiro ou a cama.
Se você assim como eu também duvidou, também chorou, também se culpou, saiba que você é incrível que seus filhos estão orgulhosos, se você está a beira da loucura, pense que as crianças também perderam, e muito até mais do que nós, afinal a compreensão de tudo que está acontecendo para eles é muito mais difícil.
Pare um pouco, respira, faça uma prece, afrouxe algumas regras, deixe algumas coisas que podem ser deixadas para depois, tire esse tempo que a quarentena te deu para curtir, para brincar, se aproximar, entender e conhecer melhor o presente maravilhoso que você tem para chamar de filho.
Tudo isso vai passar, e podemos marcar a alma de nossas crianças de uma forma positiva, que usemos esse momento para algo bom e eterno.
E assim finalizo de uma mãe de quarentena para outra, juntas somos mais fortes e sairemos transformadas para transformar uma nova geração.
Acredite vai passar!
Texto enviado por Jéssica A. Santos