Com o retorno ao trabalho, além do aperto de ter que deixar os filhos aos cuidados de outra pessoa, soma-se ainda a preocupação das escolas permaneceram fechadas. A saúde mental, atrelada ao dilema de ter que escolher entre carreira e filho, é um tema que as empresas precisam estar de olho, sobretudo neste momento de transição do trabalho de casa para o escritório.
Entre mães millennials, 74% das entrevistadas relataram piora em sua saúde mental desde o início da pandemia da Covid-19, e 97% delas experienciando a síndrome de burnout em algum momento. É o que relata a Pesquisa Estado da Maternidade de 2020, administrada pela Motherly em parceria com a Edge Research, revelando que as mãe estão vivendo um momento agudo de esgotamento. A pesquisa escutou mais de 3.169 mulheres, entre 24 e 39 anos.
Isso deriva em grande parte da combinação do estresse externo com cuidar de filhos sem escola, de trabalhar de casa e do isolamento social. Portanto, auxiliar colaboradores a encontrar as ferramentas que precisam para superar e se adaptar a esses desafios será essencial nos próximos meses para manter a saúde mental dos colaboradores.
Estudo publicado pela Associação Americana de Psicologia mostra que 70% dos pais estão estressados em conseguir minimamente suprir as necessidades básicas de suas famílias nesse momento, com a educação remota sendo também uma grande fonte de estresse.
“Com a realidade econômica atual e a pandemia, está mais difícil do que nunca para pais e mães encontrarem o suporte que precisam – especialmente pais e mães que trabalham “fora de casa” agora que o escritório está literalmente dentro de casa – e que passará a ser novamente “fora”, conforme algumas empresas já anunciaram”, diz Flavia Deutsch Gotfryd, CEO e cofundadora da Theia, primeira plataforma digital do Brasil que traz uma solução às necessidades de pais e mães que trabalham.
Mãe de dois meninos, a empreendedora também passou e passa na pele a difícil missão que é conciliar vida familiar e carreira. Formada em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e MBA pela Universidade de Stanford, tem passagens por instituições como JP Morgan, Merrill Lynch, Citigroup, e na startup de meios de pagamento Acesso.
Flavia reuniu algumas dicas abaixo do que ouviu das famílias como desafios.
1. Apoio começa pelo RH (e pelos gestores)
As lideranças precisam assumir um papel ativo em prover suporte para os pais. Isso significa capacitar os seus gestores para serem abertos e empáticos para as necessidades dos pais agora, e fornecer as ferramentas que precisam para isso. Há muitas fontes de treinamentos disponíveis. Se os seus líderes forem pais, faça com que adotem melhores práticas como comunicar abertamente quando suas horas mudam e manter seus calendários atualizados.
2. Horários flexíveis são importantes
Cada família tem uma necessidade, portanto é preciso dar alçada aos gestores para desenharem individualmente o que funciona para cada um. Grandes chances, inclusive, de sua empresa já ter implementado algumas medidas nesse sentido: 73% das organizações começaram a oferecer horários flexíveis para acomodar as necessidades de seus colaboradores, mostra pesquisa americana realizada pela Willis Towers Watson, empresa global líder em consultoria.
Dar autonomia para pais escolherem as horas de trabalho possibilita que consigam performar melhor e sem distrações que uma rotina estrita de horário em casa com filhos não permite.
3. Apoio para retornar da licença parental é mais essencial do que nunca
Muitos colaboradores aumentaram suas famílias durante a pandemia, e relatam a dificuldade que é estar com uma rede limitada de apoio. Muitos dos recursos e benefícios que estavam disponíveis pré-crise não estão mais. Portanto, tornar esse início mais fácil é muito importante para os colaboradores, inclusive para auxiliar no seu retorno ao trabalho.
De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças – CDC, 92% das mulheres relataram ter algum grau de dificuldade na amamentação no terceiro dia pós-parto, assim para novas mães ter apoio profissional para a amamentação é muito importante. Novos pais também buscam apoio de pediatras e ginecologistas, consultoras de sono, psicólogos para ansiedade e depressão pós-parto, coaches de carreira e outros.
4. Auxílio é crítico dado que o acesso a creches e escolas está limitado
A principal fonte de estresse para pais agora é onde e com quem deixar seus filhos. Com escolas e creches fechadas e ainda sem previsão de abertura, empresas podem apoiar suas famílias oferecendo subsídios e indicações – onde ainda estiverem disponíveis – de lugares seguros para deixarem os filhos. O orçamento de muitos pais não comporta gastos adicionais com cuidadores e/ou saúde, e as empresas podem pensar em novas formas de apoio financeiro (como “auxílio-babá”) e de acesso a profissionais de saúde para cuidar das crianças e dos pais. Ter esse desafio equacionado é uma forma de aliviar estresse, aumentar produtividade e, também, fonte de motivação.
5. Pais saudáveis são chave para crianças saudáveis
Mesmo com todos os benefícios que você pode oferecer ao time durante o expediente, às necessidades dos pais vão além disso. Quando pais têm acesso ao apoio que precisam, eles conseguem cuidar melhor de seus filhos. Isso significa cuidar dos pais tanto quanto eles cuidam dos seus filhos.
Ainda há muito incerteza em relação a como será o “novo normal”. Por isso, é importante mostrar aos seus colaboradores que você está escutando e avaliando as melhores opções para atender suas necessidades, afinal, colaboradores rendem mais e trabalham melhor quando o ambiente favorece essa troca positiva para ambos os lados.