Muito se fala sobre a familiaridade da geração nativa digital com a internet, mas a verdade é a seguinte: você conhece a internet melhor do que seu filho. Para entender isso, precisamos primeiro compreender que ser capaz de utilizar as potencialidades da rede para aprender, trabalhar ou facilitar tarefas cotidianas é diferente de ser acostumado desde muito cedo a ser um consumidor de serviços digitais.
Quem está na casa dos 30 anos de idade provavelmente começou a usar a internet com um daqueles CDs que davam acesso gratuito ao provedor por alguns dias, esperava a meia-noite para fazer uma conexão discada, procurava músicas via SoulSeek ou eMule e deixava o computador ligado até a manhã seguinte para terminar um download de alguns poucos arquivos.
Aprendeu sobre segurança depois de ter contaminado o computador com todo tipo de vírus ou malware e alguma vez já teve alguma conta pessoal invadida. Testemunhou a evolução das redes de mensagens desde as salas de chat, o ICQ e o MSN Messenger. Publicou fotos no Fotolog e encheu um site do Geocities de bobagem.
Quem está na casa dos 10 anos de idade ou menos, embora possa impressionar pela facilidade com que maneja dispositivos eletrônicos, sabe apenas que, com algumas escorregadas de dedo pela tela, ganha um biscoito. Pois é dessa forma que são desenhados muitos serviços digitais: clique aqui e receba um estímulo que causará uma sensação de satisfação.
É um novo mundo, mas você o viu crescer
Esse tipo de interação pode muito rapidamente causar dependência em adultos que cresceram como usuários de uma tecnologia que se tornava cada vez mais sofisticada e complexa e que tiveram a oportunidade de aprender sobre seus perigos e armadilhas. Agora imagine a dificuldade de uma criança de resistir ao impulso de assistir um vídeo enviado por um amiguinho, mesmo quando ela já tem alguma ideia de que aquele conteúdo pode não ser adequado para ela.
A provocação que quero deixar aqui é a seguinte: se o conhecimento sobre a internet – não necessariamente do ponto de vista técnico, mas pelo aspecto das interações possibilitadas pela rede – acumulado pelo adulto é muito maior do que aquele acumulado por crianças e adolescentes, quem é o responsável? Se você quer aquele youtuber de voz irritante que grita o tempo todo fora da sua casa, é melhor tomar algumas providências.
Alguma empatia pode ajudar
Mas vamos com calma, não estou falando de tirar computadores e dispositivos móveis da molecada. Podemos começar com um exercício de empatia, colocando as crianças que fomos no lugar das crianças de hoje. Lembra como era passar um dia chuvoso de férias dentro de casa vendo televisão? Agora imagine que você não pode sair para brincar e que você tem uma televisão com desenhos infinitos. Bom, foi nisso em que transformamos as vidas das crianças nas cidades atuais e com nossa falta de tempo: um eterno dia chuvoso, mas com televisão
infinita.
Felizmente, a maior parte das crianças ainda prefere que os pais dediquem algum tempo passeando com elas no lugar de passar o dia em frente a uma tela. Não vamos deixar isso se perder.
Isso não cobre todos os problemas
Mesmo que a criança ou o adolescente passe uma quantidade saudável de tempo navegando ou consumindo conteúdo pela internet, ainda assim há uma série de questões que podem causar problemas. Exposição excessiva, ciberbullying, incentivo ao consumismo, compulsão por visibilidade e aceitação, para citar algumas, podem ser prejudiciais para o desenvolvimento e trocas de informações, fotos e vídeos com pessoas mal intencionadas podem ser um perigo real.
Em relação a isso há uma enorme quantidade de materiais educativos disponíveis – sugiro começar pela SaferNet –, mas há, principalmente, aquele e aquela adolescente que esperava a meia-noite para se conectar. Você viu a internet crescer: explique para as crianças como ela funciona.